sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

discurso

_ O que você está fazendo?

_ É um truque...

_ Sério? Pensei que fosse um texto...

_ É um truque literário... Mas afinal, se você estava vendo o que eu estava fazendo, porque perguntou?

_ Para puxar assunto oras... Sobre o que é o texto?

_ É um dialogo. Uma pessoa tenta escrever um texto e a outra fica fazendo perguntas a respeito desse texto...

_ Detectei ironia na sua frase?

_ Não é sério é isso mesmo. Já era isso antes de você chegar.

_ E aí o que acontece?

_ Nada, quando o texto ficar pronto, o dialogo acaba...

_ Então qual é a graça? Ou melhor, qual é o truque?

_ Hoje é dia 29 de dezembro de 2010. Fiquei o ano de inteiro sem escrever nada, nem mesmo um microconto... Esse é o truque. O dialogo acaba e eu tiro meu marcador do zero.

_ Mas e se o dialogo ficar ruim?

_ Não interessa... um texto é um texto...

_ E como saber quando acabar? Você tem um limite ou coisa assim? Tipo uma página, x linhas...

_ Não, não tenho não... Mas é a vantagem do dialogo... Só pode acontecer com mais de uma pessoa... Quando eu não souber o que escrever é só tirar uma pessoa da sala... Ou todas...

_ É faz sentido...

_...

_...

_ Quer saber de uma coisa? Cansei, vou pegar um pedaço de bolo na cozinha, você quer?

_ Hummm, boa ideia...

Sina

Ao que me dói. Tentei fazer o seu retrato hoje, mas senti muita dor. Não sei exatamente o porque da dor, mas foi fundo, como se todos os meus ossos tintilassem como os sinos expostos ao vento Porque desenhar me dói assim. Porque pensar em você me dois assim?

Olhei horas para a caneta nanquim, não consegui nenhum traço, nem o seu olhar que depois daquele dia eu jurei que não esqueceria. Você me disse que eu desenhava mal porque nunca refazia os meus desenhos. Percebi que você estava refazendo algo comigo E não gostei mas não hora eu não falei. Talvez se tivesse falado eu me lembrasse do seu rosto. Aliás porque é tão importante eu em lembrar do seu rosto? Eu tinha te desenhado antes, com grafite, achava que grafite era para sempre... pois é, seu rosto desbotou, sujando os outros papeis do bloco, mas sem me deixar nenhuma linha guia. Linha guia! Quantas vezes eu perdi o sentido da minha vida! Quantas vezes tiveram de me lembrar quem eu era e o que eu fazia. Agora mesmo não sei o que eu faço. Parado no meio do mundo, tentando lembrar do rosto que um dia eu vi no espelho.

Quadros

Lhe disseram uma vez para nunca começar um desenho com preto: castra a criatividade. Ele acreditou mas não levou o conselho a sério. Fez fundos traços negros no papel, um bicho, não sabia. Teria um só olho, como ele, cego demais para ver que não era amado. Focado demais para perceber a dor da solidão. Um só olho e fechado, com cílios muito grossos. Cortina de fumaça como ele nunca percebeu isso? Todas as palavras, todos os gestos. Tudo só para disfarçar as verdadeiras intenções. Ela iria embora do jeito mas terrível que alguém poderia ir, ficando e não sendo.

Então ele fez coloridas asa dobre o bicho. Era um anjo no fim das contas. Um anjo confuso de plumas confusas.

Um anjo que não voava mas sorria. Sempre sorria.

Então cercou o anjo de luz. Anjos estão sempre cercados de luz, mas ele o fez porque era assim que ela estava agora. Cercada de luz, num altar em chamas.


Entre dois

_ Eu queria ouvir uma historia bonita agora, me conta?

_ Não sou bom com historias, nunca fui...

_ Não tem problema, fala qualquer coisa, sobre o amor mesmo.

_ Amor?

_ Amor.

_ Não tenho idéia de por onde começar.

Ela não rejeitou. Permaneceu em silencio. Estava sozinha, com medo e precisava do amor. Acendeu um cigarro.

_ Você anda fumando demais sabia?

_ Sabia... é o silencio...

_ É o vicio.

_ O cigarro enternece a alma.

_ E polui os pulmões.

_ Por que você anda assim?

_ A chama iluminava o rosto dele, tudo muito bonito e dourado.

_ Eu ando diferente?

_ Anda... Não sei como, não me sinto mais parte de você.

_ O que você sente?

Assoprou a fumaça. Nevoa branca na sua frente.

_ Solidão.

_ É o amor? Porque eu não soube falar dele

_ Provavelmente.

_ Apagou o cigarro.

_ Eu queria dormir nos seus braços.

_ Acho que me esqueci como se faz isso também.

_ Ainda se lembra como me beijar?

Ele não era mais iluminado por nada. Olhou para ela. Deslizou os dedos sobre a pele.

_ As vezes eu me sinto sozinho também...

Ela não disse nada.

_ Você sabe me falar do amor?

_ Talvez.

_ Quer tentar?

_ Significa algo?

_ Não sermos só dois solitários?

_ Solitário parece com solidário.

Ruminaram as palavras por um tempo.

_ Eu acho que o amor tem a ver com o brilho nos olhos. Com se sentir sempre me casa, seguro com algumas palavras. Tem haver com confiança. Com afeto, pele mesmo saca?

Ela quis acender outro cigarro falar sobre o tema a deixava nervosa.

_ Com não se preocupar. Com entrega. Eterno perdão. Calma. Saber. Não me importar e só me preocupar. Entende? É um paradoxo.

Continuaram em silencio. Ela deitou ficou olhando para a lâmpada ate que os olhos ficassem irritados.

_ Você quer amizade não amor.

_ Você acha?

_ Amor não é isso. O amor é burro e desconfiado. A amizade é eterna e o amor é só duradouro.

Ela acendeu outro cigarro. Fumou com voracidade.

_ Quer ser meu amigo?

_ Desconfio demais de você.

_ Podia fingir por esta noite?

_ Creio não ser capaz.

Uma lagrima fugiu dos olhos dela.

_ Podia ao menos ficar em silencio enquanto eu finjo que você é meu amigo?

O ar tomou um tom doce, quase delicado. Ela não fumou pelo resto da noite.

A sós

_Você me rejeitou tantas vezes... Não admitiria lhe dar um subterfúgio para você me rejeitar de novo, eu sei que você me ama. Por isso eu não lhe beijo e nem vou lhe beijar enquanto você não disser que me ama.

_ Eu te amo.

_ Então lhe beijo


-


_ Não me sinto bem nu.

_ Você é lindo.

_ Sou horrível

_ É mas tem qualquer coisas de divino no seu corpo. Lucidez congelada, eu acho.

_ Não acho.

_ É como se eu lesse a sua aurea entende? Tem qualquer coisa em você que me diz que você ainda vai ser muito amado. Existe muito amor em você. Você é divino e bonito por isso.

_ Continuo não achando.

_ Não importa, o meu amor por você é so o começo do resto.

_ É um bom começo

_ Também acho


-


_Eu queria que você me tocasse.

_ Eu tenho medo.

_ Eu também tenho

_ É tudo muito estranho.

_ É tudo muito parecido.

_ Eu te amo

_ Eu te beijo

_ Eu tenho medo de te machucar.

_ Eu te abraço.

_ E se eu nao for bom?

_ Eu não ligo. Eu só quero ter você perto de mim entende?

_ Entendo

_ Eu te amo.

_ Eu te toco.


-


_ Já é noite.

_ Antes era tarde.

_ Eu tenho que ir.

_ Eu queria que você ficasse.

_ Eu queria ficar

_ Então fica

_ Não sei, e o resto?

_ Que resto?

_ Da minha vida.

_ Esquece o resto só por hoje. Eu esperei tanto para ter você perto de mim.

_ Não posso tenho coisas a fazer.

_ Então fica ate a gente contar ate 100.

_ Tudo bem

_ ...

_ ...

_ O cem não chega nunca.

_ Eu sempre perco a conta no 60.

_ Eu perco no 20.

_ É um bom artificio.

_ Eu sempre uso isso para não ter que levantar.

_ Você me deixa louco sabia?

_ Você também.

_ Eu gosto do seu corpo.

_ O seu é divino.

_ Eu te beijo

_ Eu ainda te amo.


-


_ Já passa das uma.

_ Eu preciso ir dormir.

_ Ir para onde? Você já esta numa cama.

_ Mas tem a minha família e todo o resto.

_ Esquece por hoje.

_ Não posso.

_ Por mim, eles já tiveram você a vida toda e eu so tenho hoje.

_ Vai me ter pro resto d ávida.

_ Não, não vou. Eu li na sua áurea, você tem muito amor. Vai esquecer de mim com facilidade, você é um ima para atrair outras pessoas...

_ Mas eu posso gastar todo o meu amor com você.

_ Não, você não é exclusivo.

_ Você tem ciúmes?

_ Tenho razão. Você não pode ser só meu hoje?

_ Não poderia ser só seu para sempre?

_ Para sempre não existe.

_ Não é assim que funciona.

_ Não se preocupe eu não me ofendo só me entristeço.

_ Não queria te entristecer

_ Nem eu te manipular.

_ Agora não quero ir.

_ Então fique..

_ Por que você me olha assim?

_ Porque eu te amo mas não amo a mim.

_ Acontece.

_ Acho que eu devia ir...

_ Por que?

_ Porque eu feri sua vontade, manchei o nosso amor...

_ O amor é assim não há porque se envergonhar...

_ Vendo o meu lado vil você ainda consegue me amar?

_ Claro.

_ Eu queria ser você.

_ Eu queria me ver divino.

_ Eu queria me amar.

_ Um beijo?

_ Para sempre.


-


_ É manha.

_ Não queria sair nunca dessa cama.

_ São eles...

_ Quem?

_ O resto do mundo.

_ Eu so vou olhar pela janela.

_ Eu vou pular..

_ Da janela?!!!!

_ Não, da sua vida. Não se preocupe não lhe cobrarei nenhuma promessa...

_ Mas eu desejo fazer promessas.

_ Faça eu não as cobrarei.

_ Você pode confiar em mim.

_ Eu confio, mas não me importo.

_ Você vai mesmo?

_ Vou.

_ Um dia você volta.

_ Sempre que você se lembrar de mim.

_ É só te procurar?

_ É só me procurar...

_ Eu vou te amar para sempre.

_ Não vou lhe cobrar isso.

_ Mas poderia.

_ Poderia.

_ É bom enquanto dura.

_ É bom enquanto é sincero.

_ É.

_ Eu te amo

_ Eu devo te beijar?

_ Só se você quiser.

_ Eu quero.


Suave

Deslizando. Deslizando pelo seu corpo, pela sua ternura. Você não me salvou de uma festa deprimente.

Fico olhando seu corpo, nu, sem voyerismo nem perversão, fico só olhando, admirando as linhas, todas e qualquer uma delas.

Me aproximei de você pela palavra e eu não te salvei de uma companhia inconveniente.

Mãos e boca, pela pele macia, nem espírito nem matéria. Toque. Eu olho você, deslizar por você, pelo liso e fino.

Eu tenho saudades, como sempre tive, a clausura da eterna solidão. Não sei se você sabe, ou sabia se notou alguma diferença ou se você se lembrou. De qualquer forma deslizando sobre o seu corpo e nos não salvamos nossa existência.

Frio a noite, calor de dia. Sem luza e sem culpa. Ninguém vai derramar água quente nos seus ouvidos. E eu quero guardar para sempre essa lembrança. Meu corpo tocando de leve e a vapor o seu corpo. Deslizar. Bonito nome.

Geometria

Porque eu quero achar o ângulo exato do seu corpo. Deitada, cruzando o seu corpo com meus braços, eu quero aquele ponto onde eu posso ouvir seu coração, sentir seu cheiro e ter certeza que eu estou protegida.

É que aqui no seu colo eu realmente não acho que alguém vai entrar e quebrar tudo. Suas mãos perfeitas nos meus cabelos de pelo de cachorro são um calmante natural.

Eu sei que é tudo mentira. Eu sei que eu tenho nojo do amor, porque eu tenho nojo de mim mesma. E que meu estomago dá voltas após cada carícia sua. E eu vou chorar, porque eu te amo mas você me faz vomitar.

Ninguém tem culpa de nada. O que é passado, é passado. Eu vou fugir, vou fazer que nem nas canções, me diz, as músicas não mentem, mentem? É possível ser sincero né? E temos mesmo razão para ignorar a Lei não temos?

Por que eu vou pro mar e depois pro resto e quando eu estiver fazendo o bem e sendo grande a gente vai se encontrar. Um dia vai acontecer. E juro, não vou vomitar.

Ainda acho o seu ângulo perfeito.

Madrugada (conteúdo adulto)

Sentiu que o braço direito começava a formigar. Estava muito tempo naquela posição e não conseguia conceber nenhuma outra. O corpo pesava muito, o estomago revirava-se uma e outra vez devido a confusão de cheiros que exalavam da sua pele e da sua roupa. Então, no meio de pensamentos somente um pouco conscientes, teve a absurda idéia de que se continuasse deitado sobre o braço cortaria a circulação tempo suficiente para que as células morressem e fosse necessário amputá-lo. A idéia era demasiadamente exagerada, mas susto foi suficiente para que ele se levantasse e sacudisse o braço. A mudança brusca de posição fez com que o estomago reclamasse mais uma vez e ele cuspiu uma generosa quantidade de saliva misturada a biles.

Sua visão estava levemente distorcida, mas o ambiente era conhecido e bastante identificável. As mesas salvadoras do Mc'donalds onde se acumulavam durante a madrugada vários perdidos na noite; jovens embriagando-se, jovens embriagados, jovens querendo se embriagar, mendigos, pedintes, algumas crianças. Era cedo demais para ser tarde e tarde demais para ser cedo; aquela hora chata onde é plausível ir para casa e onde é possível esperar mais um pouco para que algo aconteça.

A sensação de formigamento já havia passado o que lhe tirou um pouco da sensação de realidade. Os músculos cansados das costas pareciam que não iam conseguir manter aquela postura, então ele curvou a cabeça sobre a mesa e preparou os dois braços para segurá-la. As mãos sentiram a leve umidade que vinha dos cabelos castanhos cacheados, vestígio dos minutos que passou com ela embaixo da água tentando se sentir melhor.

A mesa era um retângulo de pedra com pontas arredondadas. Não tinha a menor idéia de que tipo de pedra era aquela, mas tentou se concentrar no padrão para manter a sensação de estabilidade. Não tinha a pretensão de vomitar novamente.

Minutos passaram de dez em dez sem que nada acontecesse; isolado duplamente como estava do mundo, alcoolizado e sem enxergá-lo, ele não sentiu nada. Quase inconsciência.

Logo iria amanhecer, em determinado ponto o sol imundaria os prédios ao redor, a rotina do dia se apresentaria e ele sentia que permaneceria ali, imóvel, até que o que ocorria dentro dele passasse. Sombrio.

Levantou os olhos levemente de tal forma que além da mesa enxergava um pouquinho do horizonte. Apoiou a cabeça apenas em uma das mãos, enquanto com a outra pegou um cigarro dentro do maço, o colocou na boca e acendeu. A fumaça desceu a garganta arranhando, era o penúltimo cigarro do segundo maço. As mucosas do nariz arderam e por alguns segundos foi impossível respirar; seus olhos lacrimejaram prejudicando ainda mais a visão. Entretanto algo lhe chamou a atenção. Forma conhecida, não sabia bem de onde nem porque, nem o que. A medida que ela se aproximava ia se definindo. O interesse dele aumentou e ele ergueu o corpo e o rosto. Uma menina a cerca de 100m de distancia. Ela tinha um aspecto quase-alegre, quase-cinico, metida numa calça grande demais acompanhada por uma blusa apertada demais. Não se lembrava do nome, mas a medida que ela se aproximava tinha mais convicção de que a conhecia. Será que algum dia soube o nome dela, ou simplesmente se viam por aí?

Ela o olhou, tinha certeza. Sorriu brevemente e mostrou que tinha um cigarro de filtro branco apagado. Ele sorriu em retribuição; que horas será que eram?

Virou a cabeça para trás em busca do relógio eletrônico; 4:30.

_Me empresta o fogo?

Ele entregou o cigarro e viu a brasa queimar a ponta do outro cigarro.

_ E aí, como você tá?

Eles se conheciam então.

_ Tudo bem.

Mentira deslavada que ele não fez questão nenhuma de confirmar ou representar.

_ Indo para casa?

_ Pois é, mais ou menos.

Depender de transporte público era realmente complicado. Cedo demais para os ônibus passarem, tarde demais para continuarem passando. 4:30, a hora que não existe.

Ela sentou. Ele descobriu que ela era amiga de um amigo de um conhecido do namorado de seu melhor amigo. E que sempre ia ali e que já se viram diversas vezes. Beberam juntos uma vez, e foram os únicos dançando na pista numa outra vez. Quanta coisa em comum... Ele sorriu.

A conversa seguiu. Ele descobriu que a noite na boate tinha sido interrompida por uma briga; "ah"_ pensou ele_ "eu deveria ter ido, queria muito uma briga hoje". Ela descreveu a pancadaria e especulou sobre os motivos. Fofoca geralmente é uma coisa muito engraçada. Ele riu. Continuaram conversando, continuaram conversando até deixar de ser tarde e sim cedo. E então ela se levantou e disse que ia embora.

Ele fez questão de se levantar para se despedir dela, e então ela lhe deu um abraço tão forte, sincero e entregue que ele desejou que ela ficasse. Quiseram trocar beijos no rosto mas um dos beijos esbarrou no canto da boca. Sorriram e ela se despediu de novo.

Por dois segundos ele segurou com os dedos a cintura dela. Foram os dois segundo necessários para que ela se virasse e os dois se olhassem profundamente, um nos olhos dos outros. Isso foi o suficiente para que eles entendessem tudo e para que ela não fosse embora. As palavras que trocaram depois dos olhares, a combinação do local para onde iriam, a maneira como iriam e a necessidade de comprar uma coca-cola no caminho, eram totalmente supérfluas.

Se beijaram. Ele sentiu a língua quente e macia dela penetrando na boca entreaberta dele. Sentiu um gosto de tabaco encoberto pelo gosto de chicletes de menta. Agradável, delicado, com os lábios firmes e gentis. Ele supôs que a experiência dela não era tão agradável; sua boca e seu corpo concentrava uma infinidade de odores; tabaco, maconha, vômito, sangue, cachaça, urina. Além disso, tinha um corte profundo no lábio e na gengiva. De qualquer forma, ela não parecia se importar, apertando-o levemente.
Seguiram até um prédio a alguns quarteirões dali. Naquela região dificilmente conseguiriam um quarto que pudessem pagar com o que lhes restava de dinheiro. Se conseguissem entrar no tal prédio, poderiam subir até o último andar e ficar a vontade. A questão se resumia a entrar nele.

Foi mais fácil do que pensaram; o porteiro sonolento quando viu a silhueta do casal parado na porta de vidro simplesmente abriu a porta. Não reparou no semblante dela ou na mochila suja dele. Voltou a cochilar logo.

Foi com o espírito excitado pela transgressão que acabaram de cometer, que eles subiram com gulodice os andares até o último. Segurando o riso, se beijaram e se entreolharam.

Mais uma vez a linguá dela entrou na boca dele. Os lábios dela delicadamente seguraram o lábio inferior dele enquanto a respiração saía levemente das narinas dele. A mão direita dela apertou a nuca dele, enquanto os dedos da mão esquerda seguravam com delicadeza e firmeza o quadril. Ele pressionava o púbis contra o púbis dela, enquanto tocava com gentileza o pescoço e as costas.

Delicadamente, ele empurrou ela sobre a beirada de concreto da caixa d'água do prédio. O corpo dela cedeu e ela se deitou; ele tocou gentilmente o rosto dela, passando a ponta dos dedos na pele branca e delicada. Tocou os lábios rosados, e ela segurou por alguns segundos o dedo dele. Ele continuou correndo a mão delicadamente, passou pelos seios dela, pela barriga, subiu a blusa e encontrou a pele macia por debaixo do tecido. Nesse tempo eles ficaram olhando fixamente nos olhos um do outro. Ela estava tão entregue, que ele teve certeza. Manteve uma das mãos debaixo da blusa dela, sob a barriga enquanto se debruçava para mais uma vez permitir que a língua dela tocasse o interior da sua boca. Sangue, saliva, cocaína, biles, esperma, tinner, aspirina, desinfetante; tudo exalando ao mesmo tempo da roupa e da boca dele. As mãos dela subiram pelo tórax dele, e ela pode sentir uma área da pele lacerada. Puxou a camiseta expondo a pele encantadoramente cor de caramelo, os músculos firmes e marcado esboçando movimento.

Permaneceram longos minutos assim, os lábios e línguas se roçando, o tórax tocando no peito.
Ele sentiu o corpo aquecendo, e percebeu o calor vindo do corpo dela. Por algum tempo eles pararam o rosto próximos um do outro, encaixando o nariz e as maçãs do rosto. Ele mordeu o lóbulo da orelha dela, enquanto ela beijava o pescoço dele. Foi dando vários selinhos sobre o rosto dela e desceu pelo pescoço. Tocou com o rosto os seios sobre a blusa, e com uma das mãos, foi puxando o tecido. Ela levantou os braços para permitir que a camiseta saísse, enquanto ele beijava o colo dela com delicadeza. Puxou o seio farto dela para fora do sutiã, roçou os lábios sobre a pele clara e pressionou o mamilo dela. Ela gemeu, e ele sentiu umidade vindo do sexo dela.

Ele sugou o seio dela com voracidade, enquanto passava a língua energicamente sobre o mamilo dela. Algum tempo depois trocou para o outro seio, enquanto ela gemia e acariciava com delicadeza os cabelos dele.

Sob a luz difusa da rua, sob o iluminar sensível que vinha da noite-quase-dia, a pele cor mascavo dele brilhava expansivamente junto com a dela. Ele beijou delicadamente a barriga dela enquanto explorava com as mãos o caminho secreto do umbigo. Passou a parte de trás da língua sobre a pele, desceu lentamente em zigue-zague e ele puxou respirou profundamente o odor que exalava do corpo dela. Ela gemia docemente e o tocava com as pontas dos dedos; enrolava os cachos, pressionava com força. Na cabeça dele, passavam diversas imagens, desde o início da noite até a imagem gentil daquele corpo bonito. Ele olhou para o rosto dela, e enquadrado pelos seios muito claros e rosados ele viu os olhos dela entregues, puros, confiáveis.

Ele beijou o sexo dela por sobre a calça. Destravou a fivela do cinto de rebites, desabotoou a calça e abriu o zíper. Sentiu a morna brisa que exala dos sexo feminino enquanto puxava a calça para baixo. Ela levantou o quadril para que a tarefa se tornasse mais fácil, e assim que tocou as nádegas no cimento ela respirou rapidamente e sorriu devido ao contraste de temperatura.

Ele deixou a calça dela na altura do joelho. Mordiscou a calcinha dela e a puxou com a boca; uma calcinha preta, simples, confortável. O sexo dela estava umedecido, os pêlos curtos e arrepiados cobriam os lábios. Ele passou a ponta do nariz delicadamente através dos pêlos sem tocar a pele. Com a mão esquerda ele puxou a fivela do cinto e o tirou. Olhou para ela mais uma vez para ter certeza; ela levantou a cabeça e sorriu terna e sutilmente. Ele teve certeza.

Dobrou o cinto ao meio e colocou na mão dela. Ela não entendeu imediatamente, esboçando num murmurio uma pergunta que ele respondeu beijando devotamente o sexo dela. Ela apertou com força os cachos dos cabelos dele, enquanto ele abria delicadamente com a língua, o caminho até o sexo dela. Assim que a ponta da língua roçou no clitores, o cinto desceu pesado sobre as costas nuas dele.

O barulho do couro estalando sobre a carne fazia um conjunto bonito com os gemidos abafados
que saiam dela. Ele sorvia com doçura e gulodice o clítoris dela, se encarregando de beber cada gota de néctar que escorria dela.

Desceu a língua tocando os pequenos lábios dela, empurrou-a gentilmente para dentro da vagina. Ele estremeceu ao sentir as unhas dela nas suas costas junto com as pancadas do cinto.
Rodou a língua dentro do sexo dela, e ela deixou escapar um gemido alto. Encaixou a vulva inteira na boca e sorveu docemente. Então tocou a vulva com os lábios, deixou que dois dedos escorressem para dentro dela, enquanto voltava a sorver o clítoris.

O corpo inteiro dele ardia, queimava, purificava. Purificação, era disso que se tratava. Aquela mulher, aquela dama, tomava-lhe o corpo mas assim que acabasse ela lhe devolveria sem excitação ou dúvidas. Um corpo novo, purificado, sem marcas de nenhuma outra pessoa. O que lhe fora roubado e ultrajado ficaria com ela, restando a ele o corpo novo, puro, único.

Ela tremia também, cada vez mais. Quando ele sentiu e ouviu a fivela batendo na pele, percebeu o clítoris tremendo e sentiu a vulva dela se contraindo loucamente.

Com a respiração ofegante e com o cinto caindo pelo concreto, eles ficaram assim, parados, alguns instantes.

Então ela tocou os cabelos dele e conduziu levemente o rosto dele até o seu. Os mesmos olhos doces e encantadores, os olhos aos quais ele tinha decidido se entregar, estavam ali, olhando para ele da mesma maneira de antes. Ela conduziu a boca dele até a sua e mais uma vez as línguas se tocaram perniciosas. Álcool, cocaína, urina, sangue, desinfetante, cigarro, esgoto, maconha, sabonete liquido, cachaça, éter, cloroforme, esperma, nada disso importava, nada disso fazia sentido. Dentro da boca dela, o mundo era outra coisa.

Ela puxou a calcinha e a calça e começou a se vestir. Recolocou o sutiã no lugar e se levantou em busca da camiseta. Antes que ele pudesse esboçar qualquer movimento, puxou-o para si e retomou o beijo. Virou-o de costas e admirou as marcas que tinha feito. Tocou-as levemente, com as pontas dos dedos, arrancando arrepios dele. Alcançou a camiseta dele e o vestiu. Encaixou o púbis nele e pode sentir o quão úmido o sexo dele estava; não tinha sido a única a gozar.

Se beijaram novamente. O céu ainda estava dividido entre dia e noite.

Desceram os andares levemente envergonhados da constatação obvia que o porteiro faria: eles não moravam ali.

Seguiram juntos até uma avenida movimentada, onde se beijaram pela ultima vez. Ele olhou pelo canto de olho ela ir embora num ônibus azul-profundo. Ele acendeu mais um cigarro e seguiu caminhando, tinha um jornada de 8 quarteirões ate o ponto de ônibus. Trazia um semblante tranquilo e feridas abertas que não doíam, curavam.

Rotina*

A

Acordar ao meio-dia, o sol quente batendo na janela a garganta ardendo pelo calor e pelo excesso de cigarro. Alongar o corpo, molhar o rosto na água da pia, espiar o dia lá fora enquanto a água ferve no fogão.

B

Banho depois do café. Acordar os músculos espantar o sono e a ressaca.

C

Cerveja no almoço, no balcão do bar da esquina porque esta sem paciência de cozinhar. Prato feito, cerveja e um cigarro. Mormaço.

D

Desce do ônibus no centro, vira a segunda rua a direita e para no parque. Cigarro, cigarro, e algodão doce porque sentiu uma pontinha de saudade da infância.

E

Elegância ali era desnecessário, bastava circular e se manter disponível. Aluguel atrasado, aniversário do sobrinho chegando, precisava de algum...

F

Folgado como um fanfarrão o outro se aproximou. Tipo comum, levemente desagradável com suor de uma manhã inteira. Parecia que trabalhava em escritório. Nota de vinte amassada, 15 minutos de uma chupada no banheiro do parque.

G

Ganhou 50 e às seis da tarde decidiu dar um tempo. Passou no shoppping, comprou um boneco do homem-aranha e um jogo de RPG para o sobrinho. Precisava passar em casa antes que a noite seguisse intensa. Desviou de dois olhares e seguiu ate o ponto de ônibus.

H

Hora e quinze foi o que demorou indo e voltando de casa. Tomou um banho, vestiu-se de maneira mais caprichada. Ligou para uma amiga, combinaram de jantar. Prato feito, cerveja, cerveja, cerveja, cigarro, baseado, beijo de despedida. Era cedo ainda, fez um pouco de hora na porta do cinema. Por volta das onze assumiu um lugar na calçada.

I

Ignorou os acenos dos outros e foi direto falar com Douglas. Aperto de mão, abraço, sorriso, cigarro, cigarro.

J

Jeep preto, homem, mais de 60 anos. Acenou e ele foi, se debruçou no carro, desabotou a calça. O homem abriu a porta e ele entrou.

K

Ketchup com batata frita, tiozões adoram dar de comer antes de começar. Pararam num motel cerca de 2km dali, chupou o cara por vinte minutos. O homem gozou enquanto ele metia por trás. O homem ofereceu um adicional para ser sem camisinha mas ele não quis. O homem então pediu a camisinha de lembrança e ele entregou. Tanto fazia.

L

Levou meia hora até conseguir outro cliente, um homem viril mas meio feio com seus 30 e poucos anos. Tinha aparência de limpo, o que era raro. Meteu no cara com força enquanto ele pedia tapas na bunda.

M

Menino bonito acena para ele de um outro carro. Novinho, menos que 20 com certeza. No carro, um homem velho com cara de tarado. O menino fez a proposta, um programa a dois. Entrou no carro e seguiram pro motel. Cigarro, cigarro, medo de brochar, dois copos de vodca e uma hora de sacanagem intensa. Chupou, foi chupado, comeu, foi comido, dedos, língua, saliva, secreção, camisinhas jogadas, ao final precisava de um banho. Enquanto o menino tomava banho, o homem tocava os cabelos dele, náusea.

N

Não ia voltar para a rua, já era tarde e tinha dinheiro suficiente por um dia. Quase duzentos reais, era metade do aluguel. Três e 10, tinha perdido o ônibus. Podia pegar um táxi ou esperar até as 4h20.

O

Olhou no interior do bar e viu alguns conhecidos. Cerveja, cerveja, cachaça, cigarro, conversas. Fofocas sobre a noite, risadas, zoeira. Até que o tempo passa rápido.

P

Puxaram ele pela mão e o levaram para o banheiro, um teco não faz mal a ninguém. Dois, três, 9,50 pela cerveja, 20 pela cocaína.

Q

Quatorze era a idade do menino que vendia balas no bar. Comprou algumas só para ajudar, mas não tinha certeza se ajudava. O menino pediu um cigarro, ficou com um pouco de peso na consciência, mas deu. Paciência.

R

Relou de leve na perna do Douglas por debaixo da mesa. Por cima olhou fundo nos olhos dele. Estava cansado, mas o álcool e o pó o deixaram animado. Foram ao banheiro acabar com o pó, se beijaram longamente enquanto um masturbava o outro.

S

Saiu do bar e já era seis horas. As ruas estavam cheias de pessoas indo ao trabalho, metidas em roupas sóbrias. Ponto de ônibus, cigarro, cigarro.

T

Três ônibus passaram antes dele decidir entrar. Odiava pegar ônibus muito cedo, ia sempre lotado. Estava vagamente nauseado e meio constrangido com o cheiro de álcool e sexo que exalava.

U

Usou o celular para escrever uma mensagem. Balançando de um lado pro outro dentro do ônibus se sentia no direito de ser vagamente românico. Mensagem quase melosa pro Douglas.

V

Vomitou assim que saiu do ônibus. Liquido azedo, com cara de bebida mas com cheiro de enxofre. Odiava realizar uma cena logo pela manhã, mas não havia outra opção.

W

Whisque, coca-cola e muito gelo, conserta o estomago e evita dor de cabeça, especialmente se acompanhado de duas aspirinas.

X

Xampu, água e o terceiro banho do dia. Cheiro adocicado de sabonete.

Y

Yin-yang era o que estava escrito no pingente, a ultima peça que ele retirou. O sol ardia alto lá fora, mais um dia muito quente.

Z

Zzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzzz.


* Experiência muito tosca que eu fiz a algum tempo atrás. A regra era óbvia: redigir um texto sendo que a primeira palavra de cada parágrafo devia começar com um letra do alfabeto. Além de eu ter sido extremamente condescendente com várias passagens só fiz dois textos. nao tenho disciplina nenhuma para escrever...

Viagem no tempo*

A

Amanhã é o grande dia. Os cálculos estão feitos, o material separado, falta muito pouco. As estrelas ostentam um convite para o passado, brilho incandescente povoando os sonhos dele.

B

Banana no café da manhã, o trânsito pelo espaço sideral é complicado, elimina micronutrientes do corpo. Ansiedade, dor de barriga, em poucas horas estaria atrás de tudo. Por garantia, pega mais uma e segue para a sala principal.

C

Corredores verde-hospital separam do dormitório a sala principal. O ar de doença incomoda mas não o impede; o que estava para acontecer era o grande sentido da sua vida.

D

Denise aguarda na sala principal junto com mais 10 pessoas. Toda a equipe estava ali, operação secreta do governo financiada com dinheiro de impostos e maquiada enquanto lançamento de satélite.

E

Encontra-se com Gia, a precursora macaca que fizera a viagem antes dele. Macaquinha corajosa, voltara 20 anos no tempo e voltou para o tempo presente. A memória não parecia ter sido afetada, e o corpo sofreu leves alterações, deficiência de nutrientes e um leve desgaste dos ossos em função das mudanças de gravidade. Acaricia a cabeça de Gia e escuta pelo milionésima e ultima vez Denise explicar os procedimentos.

F

Fadiga. Era o que sentia depois de quatro horas de reunião. Estava nervoso, não negava, mas a equipe parecia mais ansiosa que ele.

G

Gia remexia nos cabelos dele como se buscasse piolhos. A medida que o tempo passava ela parecia mais triste. Estaria ela com saudades dele ou com saudades da viagem? Ou ainda, seria medo?

H

Hora determinante. O equipamento está montado, o traje vestido, ele esta sentado na cabine do piloto. Estavam 45 minutos adiantados, e isso era fundamental. Caso se atrasassem só poderiam tentar de novo em 3 anos.

I

Incomodado ele se remexia na cadeira. Tinha pedido a Denise que fizesse uma cadeira mais confortável, mas ela disse que era impossível. Era quase inadmissível passar tanto tempo sentado ali. Hunf, impossível, não era ela que iria ficar três dias sentado ali. “Não se sente nada quando se esta viajando no hiper-espaço querido”. Claro, claro, estaria completamente duro ao chegar de volta.

J

Jocosos pensamentos para espantar o medo. Tanto fazia o conforto da cadeira. Tinha medo mesmo era de se dissolver ao tentar passar pelo buraco de minhoca.

K

Káons brilhantes formavam uma trilha semelhantes aos tijolos amarelos do mágico de Oz. Era impossível não vê-los através do equipamento... Será que depois de atravessar encontraria um homem de lata ou uma bruxa má?

L

Lançamento. Barulho do motor, pressão sobre a cabeça, calma para manipular os controles. Longos minutos até estabilizar uma velocidade de trajeto. O rumo estava certo, a entrada do buraco de minhoca estava a alguns anos-luz dali.

M

Medo de morrer. Achava que o buraco era invisível a olho nu, mas a poeira cósmica em volta dele o tornava visível e assustador, parecia uma enorme boca pronta para engoli-lo. Gia sumiu por 32 horas segundo os marcadores. Esse buraco era maior... passaria cerca de 50h dentro do monstro, sendo digerido até conseguir sair do outro lado. Medo.

N

Nave sendo sugada, os controles precisavam estar perfeitamente certos para que ele não batesse nas paredes do buraco e se desintegrasse. Perfeitamente reto, pro infinito. A pressão era enorme, desmaiou.

O

Ouvia um zumbido sinistro meio sonho meio realidade. Não conseguia esboçar nenhum movimento, completamente entregue a enorme gravidade. Achava que via os marcadores, a nave estava quase cedendo.

P

Perigo, luzes vermelhas, sirene e vapor. Não resistiria, alguma coisa tinha dado errado. Quanto tempo já teria se passado?

Q

Queimando, tudo parecia estar queimando. A dor alucinante transcendia o seu corpo e chegava até o espírito. Queimando. Apagou.

R

Respirava ainda. Não podia abrir os olhos, mas sabia que estava vivo. O ar cheirava a metal fundido e combustível, mas estava vivo.

S

“Santo Deus, o que eu estou fazendo aqui?”. Soltou-se da cadeira, a mente completamente confusa.

T

Tateou o teto buscando uma maneira de se soltar. Estava num deserto, sem nenhuma pessoa por perto para ajudá-lo.

U

Úmero estava machucado, devia ter quebrado durante a viagem. A memória voltava aos poucos, confuso como se tivesse de se esforçar muito para encontras as palavras num oceano difuso. As informações anotadas ajudavam, mas mesmo a leitura parecia acontecer num terreno sinistro.

V

Vaudeville a respeito de uma filha de comerciante que se apaixona por um pescador. Não gostava de literatura, não gostava mesmo. Sequer se lembrara de ter lido a respeito disso quando folheou livros de história do século XVI.... Mas então como...? Como lhe parecia tão evidente as roupas e as canções? Efeito da viagem? Como um distúrbio espaço-temporal colocaria essas informações na mente dele?

W

Wino era um conceito distante, mas podia pensar em hortas de quintal, peste ou Shakspeare. Como se sua mente estivesse se dissolvendo num mar de pensamentos do século XVI. O inconsciente coletivo é fundamental para a manutenção dos pensamentos de um único individuo. Não podiam captar isso com Gia, mas mesmo ela devia ter sentido algo diferente no ar. Abdicou dos planos de conhecer o passado; acaso se afastasse da nave, perderia o único elo que possuía com o futuro e logo seria absorvido pelo fluxo de pensamentos do passado. Se tornaria um deles em poucas horas, o que será que aconteceria com suas estrutura cerebral, ou mesmo com seus conhecimentos do futuro? Será que emergeria enquanto um gênio ou um sensitivo? Melhor não saber. Fechou-se na nave, ainda bem que não tinha sido arrogante o suficiente para rejeitar o equipamento de decolagem automático, logo não conseguiria sequer saber o que fazia ali dentro.

X

Xarope amargo descia pela garganta e embrulhava o estomago. Precisava disso para dormir, não podia lidar com o fluxo de informações. Logo retornaria para casa, logo estaria distante o suficiente das pessoas para parar de sentir a sua mente ser violada por informações que não faziam sentido. Sua missão já estava cumprida, havia enterrado a caixa preta com informações sobre a viagem, as pessoas do futuro saberiam de tudo. Agora precisava dormir, tinha de aguardar algumas horas até que o buraco se tornasse atingível dali. Teria de confiar nos instrumentos, e sequer ousou olhar se havia combustível suficiente.

Y

Yagi alterada estava posicionada, os instrumentos seguiriam a trilha de tijolos amarelos assim que aparecessem. Tentava se lembrar do futuro, mas só sentia medo. O amargo da boca e a náusea velariam seu sono até em casa.

Z

Zão-zão, era o barulho dos motores funcionando. O combustível do motor iniciou a combustão interna nuclear que fez a nave subir. A medida que adentrava o espaço, ele se sentia mais feliz, livre de lembranças confusas que não fazia parte dele.

* Experiência muito tosca que eu fiz a algum tempo atrás. A regra era óbvia: redigir um texto sendo que a primeira palavra de cada parágrafo devia começar com um letra do alfabeto. Além de eu ter sido extremamente condescendente com várias passagens só fiz dois textos. nao tenho disciplina nenhuma para escrever...