sábado, 16 de maio de 2009

Os homens têm orgamos mais sinceros

A partir daquele corpo masculino que se debruçava sobre ela, começou a ter visões. Talvez fosse o oxigênio que começava a faltar, suas mãos estavam cada vez mais fracas, incapazes de deixar suas impressões sobre aquela outra pele.

Lembrava-se de todos os corpos que já se debruçaram sobre ela. Alguns remetiam a momentos de carinho, outros nem tanto. Lhe veio em tom de revelação, que fosse o que fosse, todas as transas eram eram iguais a aquele momento. Um corpo tentando subjulgar o outro. Sempre.

Só teve um único orgasmo na vida. Um homem alto, vestindo umas calças coloridas esquisitas, largas como um sarouel, cabelo raspado e óculos de aro delicado. Ele soube exatamente como percorrer seu corpo. Não foi um orgasmo sublime, tal qual os que ela tinha sozinha, mas foi bonito.

De resto, todos os outros, foram fingidos. Nem todos foram o supra-sumo da atuação, mas em geral, acreditavam.

Suas mãos estavam debilitadas demais, mesmo que alcançassem os olhos dele, não seriam capazes de arranca-los.

A pequena morte. A grande morte.

Um corpo pressente o ápice do outro. Para fingi-lo bem, é preciso não ter pressa e executar todas as etapas. É preciso acelerar a respiração (ou desacelera-la), é preciso contrair os músculos do corpos (ou amolece-los), é preciso relaxar toda a pele (ou enche-la de tensão). Por fim, é preciso ter a certeza de que o outro mordeu a isca.

Ele sentiu o corpo pesado dela em suas mãos; soltou-a e ela tombou no chão (e discretamente, aspirou uma ínfima quantidade de ar que mal moveu seus pulmões). Virou-se para encerrar o furto. Ela estava morta, ela parecia morta.

E enquanto recolhia notas e miudezas caídas no chão, sentiu um frio lancinante atravessando o seu corpo. Depois outro, depois outro, depois outro. Sangrou e sentiu o calor do seu corpo se dissolver, a respiração desvanecer, sua vida se acabar. Foi inesperadamente subjulgado.