terça-feira, 29 de julho de 2008

Amor surreal

Ei, pequena esfera preciosa que fica sorrindo jocosa para mim: você é meu tesouro!

Lembro-me da primeira vez que te vi: você estava esquecida do lado duma concha no cantinho da areia. A praia estava agitadíssima mas eu nem ligava, você me chamava.
Fui ao seu encontro, peguei você entre os dedos e senti sua fortuna. Era especial. Fomos juntos pro meio da multidão e desconfio que você ficou assustada, senti sua superfície gelar e ameaçar se desfazer. Guardei você na minha boca, embaixo da minha língua: era como se a minha língua fosse um moluscolo que te protegeria e te ofereceria uma lembrança de lar. Fiquei umedecendo e rodando você na minha boca, deixei que você sentisse meus dentes e acho que você ficou feliz porque depois quando chegamos em casa você parecia mais brilhante, mais viva.

De qualquer forma bailamos por aquela praia, você dentro de mim, como se fosse um segredo sórdido e ninguém ali entendeu a nossa magia. Entrei no mar e lhe dei um pouco de água salgada, meu beijo em você tão parecido com suor. Veio então a lua e um pouco de silencio. Lua cheia, que é da sua forma mas não da sua magnitude.
Convidei você para morar comigo e acho que você disse sim, porque veio comigo para casa.

Tirei você da minha boca, ali era seguro, não era mais necessário se esconder. Apresentei para você os cômodos do meu lar, era um apartamento quarto e sala com cheiro de maresia e cortinas de renda. Eu me sentia tão inocente com tudo aquilo! Era tão bom!

Fomos para cama. Escovei meus dentes até que ficassem lisos e perfumados. Só então me lembrei que você não devia gostar de perfume de menta e tratei de bochechar água com sal. Era nossa grande noite e tudo devia estar perfeito. Deitei-me ao seu lado, tão leve que poderia flutuar; você se ofereceu para minha boca e eu te acomodei. Entre as minhas gengivas e língua você se sentia confortável. Cada rodopio seu me estremecia. Entreguei todo o meu corpo e você rodopiou por dentro de mim, absoluta. Visitou cada centímetro possível do meu corpo e no dia seguinte eu acordei com a pele mais bonita.

Éramos felizes.

Assim foram longos dias e noites. Você dentro de mim, de todas as maneira possíveis.
Até que veio o dia em que você fugiu de mim. Pediu para ficar na areia porque queria ficar olhando o por do sol e então eu fui buscar uma água-de-coco. Quando eu voltei você não estava mais lá. Um rapaz de pele bronzeada, tinha você acorrentada a orelha dele. Quis mata-lo mas não sabia se você era prisioneira ou cúmplice. Fiz amizade com o rapaz e até agora ainda não consegui falar abertamente com você. A amizade com o rapaz evoluiu e hoje somos amantes. E eu sei que você sabe que quando eu sussurro “eu te amo” no meio da noite, não é para ele, mas para você. Você, minha jocosa e preciosa perola, que não decide o que quer de mim.

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